Nos últimos tempos, o Banco Central (BC) tem enfrentado um desafio significativo de controlar a inflação no Brasil, diante do aumento nos preços dos alimentos e da energia, além das incertezas na economia global. Como resposta, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia, em 0,5 ponto percentual, alcançando 14,75% ao ano. Essa é a sexta alta seguida da Selic e coloca a taxa no maior nível desde agosto de 2006.
A principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação é a taxa Selic. Quando a inflação está alta, o BC aumenta a Selic para reduzir a demanda por crédito e, consequentemente, conter a pressão sobre os preços. No entanto, essa medida também tem um efeito colateral: torna o crédito mais caro para as empresas e os consumidores, o que pode desacelerar o crescimento econômico.
Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que é considerado uma prévia da inflação oficial, registrou um aumento de 0,43%. Embora isso represente uma desaceleração em relação ao mês anterior, os preços dos alimentos continuam a ter um impacto significativo na inflação. O IPCA-15 acumula uma alta de 5,49% em 12 meses, ultrapassando o teto da meta contínua de inflação, que é de 4,5%.
O Banco Central opera sob um sistema de meta contínua de inflação, no qual a meta de inflação é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Isso significa que a inflação deve ser mantida dentro de uma faixa entre 1,5% e 4,5%. O BC utiliza essa meta como referência para suas decisões sobre a taxa Selic.
No último Relatório de Inflação, divulgado pelo Banco Central em março, a previsão para a inflação em 2025 foi revisada para 5,1%. No entanto, essa previsão pode ser alterada dependendo do comportamento do dólar e da inflação nos próximos meses. Já as previsões do mercado, divulgadas pelo boletim Focus, apontam para uma inflação de 5,53% em 2025, mais de um ponto percentual acima do teto da meta.
O aumento da taxa Selic tem efeitos diretos sobre a economia. Juros mais altos tornam o crédito mais caro, desestimulam a produção e o consumo, o que pode ajudar a conter a inflação. No entanto, isso também pode dificultar o crescimento econômico. De acordo com o último Relatório de Inflação, o Banco Central reduziu sua projeção de crescimento para a economia em 2025 para 1,9%. As previsões do mercado são semelhantes, com uma expansão do PIB de 2% para o mesmo ano.
A taxa básica de juros, Selic, desempenha um papel crucial no sistema financeiro. Ela é usada como referência para as negociações de títulos públicos e serve de base para as demais taxas de juros da economia. Ao aumentar a Selic, o Banco Central ajuda a reduzir a demanda excessiva que pressiona os preços, pois juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Por outro lado, quando os juros são baixos, o crédito se torna mais barato, incentivando a produção e o consumo, mas também pode enfraquecer o controle da inflação.
Diante desse cenário, o Banco Central precisa fazer um balanço cuidadoso entre controlar a inflação e permitir um crescimento econômico saudável. A decisão de aumentar a taxa Selic é um reflexo das preocupações com a inflação e a necessidade de manter os preços sob controle, mesmo que isso possa ter um impacto negativo sobre o crescimento econômico nos próximos meses.