O jovem estudante de Letras da Universidade de Pernambuco (UPE), Jadson Franklin, tem um compromisso semanal que o emociona: ser professor voluntário em um curso pré-vestibular gratuito no bairro do Ibura, na periferia da cidade de Recife, onde trabalhou ao lado de mais de 100 jovens que vivem em vulnerabilidade. O curso foi criado pela própria comunidade e é um exemplo de projeto social que surge para enfrentar limitações.

Jadson, de 21 anos, nos conta que para ele, trabalhar como professor é um exercício de gratidão e esperança. A cada dia de aula, chegam a ele sentimentos que não podem ser traduzidos com exatidão pela Gramática, a disciplina que ele ensina. Ele se inspira na família “extremamente humilde” em que nasceu, onde o pai era pedreiro e a mãe, doméstica.

“Eu costumo dizer que eu sou fruto da educação da minha família e da boa vontade de muitos professores que passaram por minha vida”, afirma. Ele, que sempre estudou em rede pública, pensava que os professores poderiam chegar em sala de aula e se restringir em transmitir os conteúdos. “Mas muitos iam além. Chegavam a mim e me encorajavam. Hoje, do lugar que estou, posso fazer um pouco do que fizeram por mim, como se fosse uma reparação”.

O curso pré-vestibular é fundado por um grupo de amigos sensíveis às dificuldades da comunidade. Além de Jadson, outros alunos e professores também estão envolvidos no projeto, como o universitário Wilber Mateus, que é estudante e professor de História, e a universitária Barbara Kananda, que é idealizadora do projeto. Eles trabalham em conjunto para garantir que os jovens tenham acesso à educação e possibilidades de mudança.

“Eu trago para os meus alunos a conscientização de que não é sobre a discriminação do ambiente, onde os sujeitos estão, que vai definir o que eles podem ou não ser, mas é a possibilidade do acesso à educação que vai diferenciá-los enquanto sujeitos que têm ou não a consciência desse direito”, afirma o professor Thiago Santos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O curso pré-vestibular tem como objetivo preprar os estudantes para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas também busca ampliar a visão de mundo. “Lá trabalhamos para garantir a esperança a esses jovens”, afirma Wilber.

O projeto é financiado por recursos próprios e parcerias firmadas com a comunidade e com instituições. O próximos dias, o curso vai realizar um apoio vocacional para os alunos, quando os resultados do Enem serão publicados e eles devem analisar se as suas notas são compatíveis com as faculdades e cursos que desejam.

O Pré-Vestibura é uma ferramenta importante para a superação das desigualdades. Como mais de 50% dos estudantes são mulheres, o projeto é fundamental para que elas sejam incluídas na sociedade. “O Estado deve surgir como entidade forte para a superação de um panorama de desigualdade”, afirma o professor Thiago.

Jadson não vê a hora de se formar, conseguir um trabalho remunerado, mas não pretende deixar a vida de doação aos sábados. “Eu sou fruto da educação da minha família e da boa vontade de muitos professores que passaram por minha vida. Hoje, do lugar que estou, posso fazer um pouco do que fizeram por mim, como se fosse uma reparação”.

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