A semana passada, o cinema brasileiro celebrou a indicação do filme “Ainda Estou Aqui” a três categorias do Oscar. Além disso, a Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, abordou um filme que resgata uma história pouco conhecida do regime militar: a violação aos povos indígenas.
O documentário “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” narra o reencontro de Sueli Maxakali com seu pai Luiz Kaiowá, um indígena Guarani-Kaiowá que trabalhou na terra Maxacali em Minas Gerais. No entanto, ele foi obrigado a voltar para a terra dos Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul, devido à violação dos direitos indígenas e ao desmatamento da terra.
O filme foi dirigido por oito pessoas, incluindo Sueli Maxakali e Roberto Romero, etnólogo e cineasta. O diretor Roberto Romero afirma que o cinema pode revisitar e jogar na cara do povo brasileiro memórias sobre a ditadura militar, que muitas vezes são pouco conhecidas.
A diretora Luísa Lanna destaca a importância de filmar violações a indígenas durante a ditadura e vê a possibilidade de uma evolução paralela entre a cinematografia e a historiografia. Ela defende que o cinema olhe com mais atenção para a memória que os povos indígenas guardam do período militar.
Outros filmes brasileiros já abordaram as violações cometidas durante a ditadura militar, como “O Que é Isso Companheiro?” e “Zuzu Angel”. No entanto, nenhum deles aborda o que ocorreu com os indígenas. Alguns livros, como “Tom Vermelho do Verde” de Frei Betto, também têm busado tirar essas histórias do anonimato.
O filme “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá” destaca a construção da memória da ditadura a partir das várias histórias que são repassadas pelas falas das pessoas que testemunharam esse momento. A diretora Luísa Lanna considera que há uma desconstrução da ideia de uma história voltada para a busca por uma verdade única e universal, e que os depoimentos do filme apresentam vivências e percepções individuais.
Os Maxakalis formam um povo com cerca de três mil pessoas vivendo na região do Vale do Mucuri em Minas Gerais, dividida em aldeias que ocupam pequenos territórios. O filme documenta também a luta liderada por Sueli e Isael para retomada de um novo território para cerca de 100 famílias. Para os diretores, o filme é um instrumento de resistência e uma forma de preservar a memória e a cultura indígena.