A 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que ocorreu em São Paulo, foi um espaço onde pequenos agricultores de todo o Brasil puderam compartilhar suas experiências e conhecimentos sobre a importância da agroecologia e da produção sustentável. Um dos participantes, Adailton Souza Santos, um agricultor de 56 anos da Bahia, contou como sua visão sobre a agricultura mudou após se juntar ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Santos sempre trabalhou com a terra, desde criança, mas nunca pensou na importância de produzir de forma sustentável. No entanto, após se juntar ao MST, ele aprendeu sobre a agroecologia e começou a produzir alimentos sem agrotóxicos. Hoje, ele se orgulha de poder oferecer à sua família alimentos saudáveis e sem riscos para a saúde.
A feira também foi um espaço para discutir os desafios enfrentados pelos pequenos agricultores no Brasil. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), houve um aumento significativo de ocorrências de contaminação por agrotóxicos em 2024, com 276 casos registrados. Além disso, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net) do Ministério da Saúde registrou 1.530 casos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas no país apenas nos primeiros quatro meses de 2024.
AAtlas do Espaço Rural Brasileiro, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 76,8% dos estabelecimentos agropecuários e aquicultores são de agricultura familiar, mas esses ocupam menos de um quarto da área dedicada a essa atividade econômica. Além disso, a agricultura familiar gera 10,1 milhões de postos de trabalho, segundo o Ministério do Desenvolvimento do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
Para superar esses desafios, pequenos agricultores de todo o mundo estão se unindo em redes de apoio e cooperação. A associação Baobab, por exemplo, é uma rede que reúne movimentos populares rurais e urbanos de vários países, incluindo o MST. A Baobab trabalha para facilitar a interlocução entre comunidades do Sul Global e promover a agroecologia e a sustentabilidade.
O coordenador para a América Latina da Baobab, Luiz Zarref, destacou que um dos principais entraves para os pequenos agricultores é a falta de maquinário disponível e adequado para a sua escala de produção. Além disso, a agricultura familiar ainda não tem um projeto político de fato no Brasil, o que dificulta a implementação de políticas públicas que atendam às suas necessidades.
A rede Baobab também trabalha para promover a emancipação dos trabalhadores em diversos aspectos, desde a alfabetização até a garantia de que os agricultores possam se apropriar da cadeia de cultivo do início ao fim. Além disso, a associação busca tornar os agricultores mais do que meros fornecedores de matérias-primas para países desenvolvidos, mas sim produtores de alimentos valorizados por seus nutrientes e propriedades.
Em resumo, a 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária foi um espaço importante para discutir a importância da agroecologia e da produção sustentável, bem como os desafios enfrentados pelos pequenos agricultores no Brasil. A união de pequenos agricultores em redes de apoio e cooperação, como a Baobab, é fundamental para promover a sustentabilidade e a emancipação dos trabalhadores rurais. Além disso, é necessário que o governo brasileiro fourneca um suporte interministerial e consistente para a agricultura familiar, que é fundamental para a segurança alimentar e a sustentabilidade do país.