Há mais de duas décadas, uma lei tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas do país. No entanto, a aplicação desse que a legislação determina ainda é um desafio. Uma pesquisa do Ministério da Educação mostrou que, em 2019 e 2021, apenas metade das escolas desenvolveu algum projeto sobre relações étnico-raciais. Quanto à educação continuada, o quadro é mais grave: apenas 14,7% dos gestores escolares tinham materiais pedagógicos ou socioculturais para ensinar a disciplina. Além disso, apenas 0,92% dos professores tinham formação adequada sobre o tema.

Ignorar a história e a cultura dos negros é, na verdade, ignorar a história e a cultura de 56% dos brasileiros. A Secretária de Educação Continuada, Diversidade e Inclusão do MEC, Zara Figueiredo, explica que a implementação da lei é difícil devido à falta de coordenação federativa entre as redes escolares.

No entanto, desde este ano, o MEC está trabalhando para implementar a lei. Foram ofertadas 215 mil vagas de formação para professores e enviados materiais de apoio para centenas de redes. Além disso, o livro do professor e do aluno, com conteúdo antirracista, foi distribuído para os anos iniciais e finais do ensino fundamental.

As marcas do racismo na escola não se apagam nunca. Professores e estudantes negros podem experimentar bullying, preconceito e ignorância. Uma professora, Gina Vieira, recorda ter sido punida por estar sentada no fundo da sala, embora a turma toda estivesse fazendo bagunça. Outra professora, Keila Vila Flor, revela que as piadas de cunho étnico-racial eram comumente direcionadas a ela.

No entanto, há soluções. O Caminhos da Reportagem encontrou exemplos de escolas que estão trabalhando para combater o racismo. No Distrito Federal, o projeto Cresp@s & Cachead@s busca recuperar a autoestima dos estudantes negros. Em Salvador, a escola Maria Felipa tem um projeto político-pedagógico que valoriza diferentes marcos civilizatórios do povo.

O escritor Jeferson Tenório afirma que a discussão do racismo dentro da escola é importante. “É preciso ter uma responsabilidade ética: me preocupar com os problemas dos outros e não só com os meus. É colocar também o racismo numa dimensão em que o aluno perceba que não existe democracia enquanto houver racismo”.

O episódio As Marcas do Racismo na Escola vai ao ar nesta segunda-feira, às 23h, na TV Brasil.

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