O Grupo de Pesquisa Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), lança um relatório inédito sobre violações contra os povos de terreiro e suas formas de luta, com base em 1.242 publicações da imprensa digital entre 1996 e 2023. O estudo revela conflitos étnicos, raciais e religiosos que afetam os povos tradicionais de matriz africana no Brasil.
O relatório, lançado no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, apresenta um acervo de notícias sobre violências e ações de mobilização por direitos humanos realizadas pelos religiosos de matriz africana. Segundo a coordenadora do Ginga, Ana Paula Mendes de Miranda, a principal importância do estudo é estabelecer um instrumento público de pesquisa com informações que traçam um retrato do país inteiro.
A maior parte das mídias analisadas foi resultado de sites e portais de notícias (67,0%), seguidos de jornais (23,1%), blogs (4,6%), revistas (3,5%) e rádios (1,8%) online. Os principais temas tratados no banco de dados incluem violações enfrentadas pelos terreiros e ações de mobilização desses espaços.
A análise dos dados revela que 512 eventos relacionados a conflitos étnico-racial-religiosa contra religiosos, terreiros, monumentos ou locais de prática religiosa e contra religiões de matriz africana de forma generalizada, como discursos de ódio e ofensa. Invasões e depredações de locais sagrados e ofensas e agressões verbais são as violações mais frequentes.
O relatório também destaca a importância da atuação da sociedade civil e do poder público para combatir essas violações. A mobilização pública foi identificada como uma forma eficaz de pressionar as autoridades a tomarem medidas contra os casos de violência. As denúncias nas redes sociais, por exemplo, foram identificadas como uma forma importante de manifestação pública.
A professora Ana Paula Mendes de Miranda destaca a importância de se valorizar a diversidade cultural e religiosa no Brasil e de se combater a intolerância e o racismo. “O racismo no Brasil está presente desde sempre, ele não acabou e, infelizmente, não vai acabar, mas acreditamos que fazendo um trabalho desse tipo estamos contribuindo para que os efeitos do racismo não sejam ignorados, para que os racistas não possam continuar fazendo o que fazem”.