Após enfrentar as consequências das chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, os moradores da Ilha da Pintada, no bairro Arquipélago, em Porto Alegre, voltam a lidar com as águas do Rio Jacuí. A região, considerada extremamente vulnerável a enchentes pela Defesa Civil municipal, fica no Delta do Jacuí, onde o rio lança cerca de 80% das águas que formam o Lago Guaíba.
Com as chuvas das últimas semanas, o nível do Guaíba ultrapassou a cota de inundação da área próxima à ilha, e as águas invadiram ruas, residências e estabelecimentos comerciais, forçando muitas pessoas a deixar suas casas. O empresário Alexandre Rossato, dono de uma marina na rua Nossa Senhora Boa Viagem, conta que seu galpão de três mil metros quadrados está com água pela cintura e que píeres foram afetados.
Rossato explica que o prejuízo só não foi maior porque, após as cheias de maio de 2024, ele e seus funcionários ficaram mais “cautelosos” e suspenderam parte das 230 moto aquáticas sob sua responsabilidade. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 1,2 milhão, e agora, apesar de ter sido menor, os estragos ainda não foram avaliados completamente, pois a marina não está podendo operar.
O empresário, que está instalado na Ilha da Pintada há quase 16 anos, compara a atual enchente com a de maio de 2024 e afirma que a atual é inferior, mas também bastante diferente. Ele cobra mais atenção do Poder Público e destaca que os moradores da ilha têm contado principalmente com a solidariedade de vizinhos, parentes e amigos.
A agente de educação Paola Sum, de 31 anos, é uma das pessoas que tiveram que deixar sua casa devido à enchente. Ela contou que a água entrou em sua casa e na de sua mãe e que elas tiveram que erguer todos os móveis para salvar as coisas mais caras. Paola revelou que a água chegou à altura de sua cintura na rua em frente à sua casa e que ela e sua família estão alojadas gratuitamente nos apartamentos da marina de Rossato.
As águas também voltaram a avançar sobre o imóvel onde funcionam o Quilombo da Resistência e a Quitanda da Bia, administrados pela líder comunitária Beatriz Gonçalves Pereira, a Bia da Ilha. Esta é a terceira vez desde novembro de 2023 que o espaço é atingido. Bia afirma que, embora não se compare à cheia de 2024, esta é uma das mais estranhas de todas e que a situação se estabilizou nas últimas horas.
A líder comunitária destaca que as ilhas estão alagadas, mas ainda é possível caminhar por muitas ruas, e que muitos comércios estão funcionando. No entanto, ela expressa preocupação com a previsão de chuvas fortes nos próximos dias, o que pode fazer com que a água volte a subir. Bia também critica a interrupção do fornecimento de energia elétrica em parte da ilha, o que gera problemas de comunicação e afeta pessoas com problemas de saúde que dependem de equipamentos.
Apesar dos desafios, Bia destaca a solidariedade dos moradores da ilha e a ajuda dos órgãos públicos. “Somos resistência. Uns ajudam aos outros; quem tem casa mais alta aloja os vizinhos e, com o apoio dos órgãos públicos, que também vêm ajudando as famílias atingidas, distribuindo água e comida, nós vamos nos reerguer mais uma vez”, finaliza Bia.
A reportagem da Agência Brasil tentou contato com a Defesa Civil de Porto Alegre, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. A situação na Ilha da Pintada continua sendo monitorada, e os moradores seguem lutando para superar os desafios impostos pelas enchentes.