Parte das terras da antiga Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, usada como local de incineração de corpos durante a ditadura militar, vai virar um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
O Incra aprovou a criação do projeto de assentamento na área desapropriada, que ficou em disputa por várias décadas.
O assentamento vai ganhar o nome do líder do MST, Cícero Guedes, assassinado a tiros em 2013 em uma estrada rural, também em Campos dos Goytacazes.
As terras da Usina Cambahyba pertenciam à família de Heli Ribeiro Gomes, já falecido. Ele foi vice-governador do Rio, de 1967 a 1971, e teria uma relação de proximidade com o agente do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS), Cláudio Guerra.
Em livro publicado em 2012, o ex-delegado afirma que o político permitiu o uso do forno da fazenda para a incineração de corpos de opositores à ditadura militar, mortos sob tortura. Os corpos de 12 militantes políticos teriam sido incinerados no local.
O historiador Lucas Pedretti, coordenador da Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, afirma que a narrativa de Claudio Guerra foi confirmada por perícia e também em condenação judicial do ex-delegado, em junho deste ano.
Lucas Pedretti destacou a importância de o assentamento receber o nome do líder Cícero Guedes, o que, segundo o historiador, mostra uma continuidade entre passado e presente, de um autoritarismo que persiste no país. Pedretti defendeu a criação de um espaço de memória no assentamento.
A dirigente do MST no Rio de Janeiro, Eró, afirmou que o anúncio do assentamento é um processo de reparação histórica da classe trabalhadora e do avanço da reforma agrária no estado.
De acordo com portaria publicada pelo Incra, 185 famílias serão assentadas no local.